O Projeto Missão Veterinários RS – PARTE 2
Esse projeto foi organizado pelo curso de pós graduação de Medicina Veterinária do Coletivo da Universidade Federal do Paraná (UFPr) com apoio e parceria da Universidade de Minas Gerais (UFMG), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas, Universidade de Uberaba (Uniube), Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Instituto de Medicina Veterinária do Coletivo, Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal e Grupo de Resposta a Animais em Desastres (GRAD).
O Projeto Missão Veterinários RS tinha como objetivo melhorar o bem-estar dos animais nos abrigos e apoiar as equipes que já estavam no local. Porque com o passar do tempo, o número de voluntários foi diminuindo, mas a necessidade de cuidados com os animais abrigados continuava. Foram organizados sete grupos, cada grupo ficaria pelo menos uma semana.
O primeiro grupo que viajou ao Rio Grande do Sul foi em quinze de junho. Como eu me inscrevi na equipe sete, viajei em vinte e sete de julho e retornei dia quatro de agosto. Recebi apoio financeiro do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA) para custear o transporte, hospedagem e alimentação. A Equipe Sete contava com vinte pessoas, dezenove médicos veterinários e um estudante de medicina veterinária que vieram de São Paulo, Paraná, Ceará, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e eu de Santa Catarina (Figura 1). A faixa etária estava bem diversa, mas a maioria, acima dos 35 anos.
O serviço voluntário foi realizado no Abrigo da Secretaria de Bem-Estar Animal (Figura 2), localizado na Avenida Boqueirão, 1985, no bairro Igara, na cidade de Canoas.
Sobre o alojamento dos animais
Então, é um abrigo emergencial e como tal a estrutura não é a ideal. Antes das enchentes residiam cento e vinte animais nesse local e após o desastre, esse local chegou a ter dois mil animais! Durante o meu serviço voluntário haviam em média seiscentos cães, cinquenta gatos e dez cavalos.
O abrigo é dividido em várias áreas. Há dois locais de alvenaria, com baias individualizadas em que os animais ficam soltos, que é o canil verde, junto a este uma área denominada de “Mika” que era usado para recuperação pós cirúrgica, e a área dos brabos (Figura 3), que pelo nome, já da pra imaginar que são animais mais agressivos.
A Tenda dos Idosos (Figura 4) é uma área cercada com 02 contêineres onde os animais com idade mais avançada e mais calminhos ficam soltos. A área de britas, tem casinhas de alvenaria e casinhas de madeira, alguns cães podem ficar soltos, mas os escaladores de grades são presos em correntes.
Há o Pet Place (Figura 5) que possui um amplo espaço com casinhas e entretenimento que é mantido financeiramente por uma benfeitora conhecida como “Dona Vitalina” onde ficam soltos aproximadamente dez cães.
O abrigo conta ainda com nove tendas, onde os animais estão em baias individualizadas por divisórias de compensado (Figura 6), quase sem acesso a luz solar e nem sempre saem para fazer passeios. As tendas de 1 a 8 são divididas em corredores que vão de A até E. Cada corredor pode conter até 08 baias. A Tenda 9 (Figura 7) quase não tem iluminação a noite e a estrutura externa dela é quase toda de lona, havendo maior passagem de vento frio.
Nos contêineres 1 a 4 ficam os animais em tratamento devido à alguma doença. Dependendo da patologia, eles saem para pequenos passeios.
Ainda havia uma área de isolamento que é uma construção em alvenaria que foi cedida emergencialmente por outra secretaria, nesta área haviam 65 cães, e uma área de contaminers que servia de isolamento dos gatos.
Na area de lavanderia (Figura 8) há cinco máquinas de lavar e quatro secadoras que funcionam à todo vapor, onde são higienizados os cobertores , roupinhas e caminhas diariamente.
Os trabalhos que realizei foram os mais variados e sempre com troca de funções e mudanças entre os grupos. A primeira atividade diária era a ronda pelas tendas e em todas as áreas do abrigo com o objetivo (Figura 09) de averiguar a sanidade deles, ver se algum animal estava precisando de atendimento veterinário, se estava magro para encaminhar para o manejo alimentar diferenciado ou com dificuldades para se alimentar como é o caso do cão com megaesôfago (Figura 10), ou se havia algum idoso para ser realocado na Tenda dos Idosos, onde ficariam livres de correntes.
Dentre as atividades realizadas pela equipe sete podem ser citadas: vacinação, vermífugação, testes laboratoriais para detecção cinomose em cães sem sinais clínicos, microchipagem nos animais que não estavam identificados, atividades de bem-estar e interação com os animais, pesagem dos animais do manejo alimentar diferenciado (figura 11), identificação e organização das tendas de animais não castrados para agilizar a castração, manutenção, higienização e desinfecção dos recintos, orientação aos tratadores, fotos e cadastro de todos os animais (Figura 12), organização das carteirinhas de vacinação, administração de medicamentos, construção de casinhas e mesas para alimentação, entre outros.
Os líderes do grupo tiveram reuniões com o Vice-Governador do RS, Prefeito de Canoas, IBAMA, Grupo de Resgate de Animais em Desastre (GRAD), entre outros. Membros do GRAD eram presenças constantes no abrigo, tanto para exigir melhorias na estrutura, como para transportar animais adotados (Figura 13) e trazer animais vítimas de maus-tratos para o Abrigo.
O local é o ideal para os cães? Não, longe disso! Eles não estão tendo direito a todas as liberdades de bem-estar animal, como por exemplo, a falta de liberdade para expressar os comportamentos naturais da espécie, não tem espaço suficiente, fato que leva também ao medo e estresse. Mas muito bons quando você avalia que é um abrigo emergencial com quase 700 animais.
Por Ellen Lueders em 01/09/2024