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O LAGARTON DO ENCANO

Encano baixo, na tarde de 17 de novembro,  

– Neni, olha que “lagarton” tem aqui perto do lagoa!  

– Nach Mutter, Wirst du verrückt! Isto é um jacaré!  

Imagino que este diálogo tenha acontecido entre os assustados e impressionados moradores do  encano, no mais legítimo germanês do Vale do Itajaí.  

O bairro do Encano ainda é basicamente uma comunidade com aspectos e propriedades rurais, com  predomínio de descendentes de origem alemã. Onde podemos observar isso através das antigas  casas com estruturas enxaimel e fechamento em taipa ou em madeira e tijolos maciços aparentes.  Mas infelizmente, percebe-se a pressão imobiliária chegando principalmente pelo bairro da Velha,  de Blumenau, na maioria das vezes sem um planejamento urbano adequado poderá mudar em breve  esta paisagem.  

Talvez esta situação, associada as poucas chuvas e por consequência, a menor cobertura de áreas  alagadas, obrigando estes animais a se aproximarem das áreas habitadas, como neste caso. Estima se que fazem mais de vinte anos que não se avistava um jacaré de papo amarelo em nossa região,  daí o espanto dos moradores.  

Até os Bombeiros Voluntários de Indaial, no início não acreditaram na veracidade da informação  passada por telefone mas, no local verificaram que realmente tinha um jacaré passeando na lagoa.  Depois de capturado pode-se avaliar que tratava-se de um jacaré de papo amarelo (nome científico:  Caiman Latirostris), animal que se encontra na lista de animais em extinção do IBAMA.  Contataram então a Policia Ambiental para dar prosseguimento a operação (figura 1).

Figura 1 Jacaré do Papo Amarelo no cativeiro improvisado no Batalhão do Corpo de Bombeiros.  Foto Corpo de Bombeiros Voluntários de Indaial.

O jacaré de papo amarelo costuma medir em média entre 1,5 m e 2,5 m mas já foram capturados  exemplares com mais de 3 metros de comprimento. Sua cor é esverdeada, quase pardo, com o  ventre amarelado, o focinho largo e achatado. Caracterizam-se por possuírem uma mordida forte,  podendo partir o casco de uma tartaruga. Alimenta-se de peixes, aves, mamíferos, moluscos e  anfíbios. Vive em rios calmos, lagos e lagoas.  

Este jacaré, em Florianópolis tem sido personagem comum dos noticiários, já que eles tem  aparecido em áreas urbanas e nas vias públicas após enxurradas principalmente nas áreas próximas  aos manguezais da Bacia do Itacorubi, mas tem aparecido também em outras regiões da Ilha, e  atraído a curiosidade dos moradores, um destes tentou filmá-los com um celular bem de pertinho e  teve o aparelho abocanhado por um dos jacarés que não gostou do “paparazzi”.  

A Cuca, como foi apelidada pelos bombeiros, na sexta feira, dia 20, foi examinado por professores  do curso de medicina veterinária da FURB, através do projeto de extenção SAASBLU – Serviço de  Atendimento de Animais Silvestres, coordenada pelo médico veterinário Prof. Julio César de Souza  Junior. Durante este exame mais minucioso pode-se ter certeza que estava em bom estado, tratava 

se de uma fêmea, media aproximadamente 1,75m do focinho a ponta da cauda. Após a análise de  várias áreas apropriadas para soltura, o melhor lugar foi mesmo em Indaial, antes da soltura a Cuca  teve a implantação de uma identificação permanente através de um microchip.  

Cuca, é um dos principais seres mitológicos do folclore brasileiro eternizado na obra de Monteiro  Lobato, “O Saci” (1921), único de toda a obra do escritor em que ela aparece. Mais tarde  transformada em série infantil de TV (Figura 2). 

Figura 2 Personagem Cuca na primeira versão televisiva do seriado infantil Sítio do Pica Pau  Amarelo, 1977 a 1986. 

A Cuca no folclore tem a forma de uma velha feiticeira com a cabeça de jacaré, já na obra televisiva  era uma jacaré de papo amarelo mesmo com cabelos louros longos. (Não sei o amigo leitor mas eu  fui embalado e embalei meus filhos com uma cantiga de nina que dizia assim: “nana neném / Que a  Cuca vem pegar/ Papai foi na roça/ Mamãe foi passear” a criança que dormia com esta verdadeira  estória de terror, não vai perder o sono com um palhaço de nariz vermelho, não é mesmo? Bom  voltamos a Cuca do Encano). Uma das versões da lenda da Cuca diz que, a cada 1.000 anos, brota  de um ovo uma nova Cuca. Então, a Cuca “antiga” se transforma em um pássaro de canto triste,  enquanto a nova Cuca assume seu papel. Será que é isto que acabou de acontecer no encano? Só o  tempo dirá.  

Assim toda esta aventura que começou num sítio do encano teve um final feliz, graças aos próprios  moradores que tomaram a atitude correta de não provocar ou mexer com este animal, o trabalho dos  Bombeiros Voluntários, Polícia Ambiental e o Serviço de Atendimento de Animais Selvagens da  FURB.  

Referências  

BERTOLI, Bianca. Jacaré é devolvido à natureza após aparecer em casa de Indaial: animal foi  avaliado e identificado com microchip antes de ser solto. Animal foi avaliado e identificado com  microchip antes de ser solto. 20 nov. 2020. Disponível em: https://www.nsctotal.com.br/noticias/ jacare-e-devolvido-a-natureza-apos-aparecer-em-casa-de-indaial-veja-imagens. Acesso em: 20 nov.  2020.  

FLORIANÓPOLIS (Município). FLORAN – Fundação Municipal do Meio Ambiente. Jacarés: Prefeitura esclarece. Florianópolis, 2018. Disponível em: http://www.pmf.sc.gov.br/sites/bisp/ index.php?pagina=notpagina&noti=19255. Acesso em 22 nov. 2020.  

WITTMANN, Angelina. Encano Alto – Indaial SC – Ocupação do Solo – Patrimônio Histórico  Arquitetônico, 21 mar. 2020. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2020/03/ encano-alto-indaial-sc-ocupacao-do-solo.html. Acesso em: 23 nov. 2020.